quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Enem como antítese

Chega a ser irônico o fato de a proposta de redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) focar o trabalho e a ética como valores a serem discutidos pelos jovens. Porque o próprio Enem, mais uma vez, está envolvido em denúncias que colocam em xeque sua condição de avaliação ampla e, necessariamente, justa.



O exame mobilizou mais de 3 milhões de estudantes que, após anos de trabalho visando merecer um bom desempenho, se veem diante da dúvida sobre a própria viabilidade da prova. Ou seja, diante do sentimento de que nada valeu a pena, lançados à desconstrução de tudo o que empreenderam com seus estudos.



Trata-se de uma grave contradição. Se o exame se propõe a ser um termômetro da meritocracia em nível nacional, está, na verdade, frustrando esse valor através do mau exemplo. Isso porque, após denúncias já ocorridas em anos anteriores, este ano uma pequena parte das provas continha erros, os candidatos que as receberam acabaram prejudicados e todos, agora, se veem diante de uma situação que ameaça o espírito empreendedor e a iniciativa que se espera de uma sociedade desenvolvida.



A contradição se agrava ao refletirmos sobre o que significa esses repetidos erros denunciados sobre o Enem. Ao que parece, não há sintonia, por exemplo, entre governo e gráfica que imprime as provas, pois tampouco se confere corretamente o que se propõe aplicar e o que se aplica aos participantes da avaliação. E uma prova que prega a transversalidade de conhecimento entre Ensino Médio e universitário mostra ser, ela mesma, um fracasso nesse sentido.



O resultado disso é mais desilusão despejada num dos setores que mais carecem de atenção no país: a educação. Isso porque, estando a prova perdida e com credibilidade ameaçada diante da proposta de ser um parâmetro nacional, a juventude estudantil corre o risco de se tornar mais apática, boa condição para governos que se aproveitam de uma sociedade inerte, mas um contexto péssimo para um país que se diz no trilho do desenvolvimento.



Lembrando o escritor irlandês Oscar Wilde, “Um cínico é o homem que sabe o preço de tudo, mas o valor de nada”. O Brasil, a considerar esses tropeços do Enem, corre o risco de estar deixando de lado o verdadeiro valor de uma ampla avaliação, bem-vinda e necessária, mas que só terá sentido se premiar os mais capazes e preparados para empreender o futuro.





Postado por Equipe OPEE

Nenhum comentário: